quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Gritos em Silêncio


Uma espécie de compaixão escorre aqui, gota a gota, dentro de ti. Permaneces deitado a meu lado, o dia acordou com pujança.

Acordaste com um grito, não um ruído, mas um grito que anestesiou os sentidos, que impede de ver e de ouvir. O que gritavas era apenas um devaneio ingénuo do teu amor que pretendia ser a supressão de todas as contradições, a supressão da dualidade do corpo e da alma e talvez mesmo a supressão do tempo.

Sentas-me à beira da cama, lábios que se tocam com a suavidade mas com ardor e prazer; As tuas mãos continuam tocando me sem cessar.

Passeiam pelas coxas, subindo lentamente.

Gemidos abafados pelos teus beijos, carícias constantes. As minhas unhas a percorrer as tuas costas, arranhando, provocando-te arrepios.

As tuas mãos agora passam pelos meus seios, apertando-os. A tua língua a percorrer o meu corpo.

O dia desagua pela nossa janela, somos enjaulados pela fina teia de néon, que nos vai corroendo a alma, à medida que penetras em mim, que despejas toda a tua sabedoria dentro deste meu corpo quase apodrecido.

Viro a cabeça compulsivamente, à procura do amor antigo, fantasmas que ainda pairam sob a tua cabeça.

Este era um momento de desprezo, tinha a vontade de fazer retirar tudo o que te dei, todo o meu corpo e atirar aos animais que passeiam nos meus pesadelos.

Tudo era uma mentira criada por nós;




(...)



Lúcia Pereira