terça-feira, 24 de novembro de 2009

Poesias III

Jardim de Agosto




Sabes, amor, procuro por entre os teus buracos inúteis que se prenderam ao passado, mas a noite chega me sempre inquieta em ventos gelados.
Acendo um cigarro e converso com os meus fantasmas, enquanto passeias as tuas palavras recheadas de sedução perto de outros seres. Os teus dedos que tacteiam o teclado, tem fogo na ponta, queimando quem te lê no outro lado.
Escondes com o teu rosto as perversões criadas, enquanto eu, sentada, me perco entre pensamentos escondidos, lágrimas que me queimam a alma.

A tua ausência transparente, percorre a minha pele cortando-a como uma fina lâmina aguçada, provocando rios de sangue que pintam o nosso quarto. Manchando-o com a tua indiferença para comigo.

Por vezes, sinto-me só.
Não sei dizer de onde aparecem os muros que surgem no teu rosto, quando a minha mão toca no teu corpo; tudo o que dissemos perdeu a cor, a musica, o sentido, a paixão.
Tudo ficou para trás, quando me tocas, não te sinto como sentia antes, quando te toco tu não me sentes, mas nunca me sentiste antes.



Os olhos fecham-se agora com o peso das paixões desfeitas, e continuamos a respirar no nosso jardim de Agosto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Poesias II

sou um ser que está petrificado com a seiva que escorre das manhãs,
e por de trás deste corpo, as palavras são silêncios perdidos
que sílaba por sílaba enterram-se no corpo

sílabas que estão contaminadas com a luminosidade dos barcos adormecidos
nenhuma máscara consegue esconder o rosto magoado,
desfolham-se os dedos sempre que tento escavar as palavras até ao coração


A noite aproxima-se
A noite jorra silêncios, estrelas e mar
Olho-te a adormecer, teu rosto derramado sobre o meu ombro

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Poesias I

são oito horas da noite e alguns minutos
eu estou a flutuar irremediavelmente para longe.
o mundo parece despedaçar-se pelos oásis da minha loucura
este vácuo lento do tempo
começa a sugar o meu sangue,
deixando vazio a mente.

é-me desconhecida, por completo, a vida fora dos sonhos
e dos espelhos
onde brincavas com teias de delírios
com o sangue que escorria pela face

comemos a lucidez do asfalto
entramos no real


sei..eu sei que a mentira comanda o sonho
{mas é no sonho que te encontro}

Acordo.

Não semearei desgostos nem traições, por onde passar

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Poesia

>


Como todos os dias, debrucei-me sob a minha janela e inspiro.

Inspiro com tanta força com medo que o ar se acabe naquele mesmo instante.

O sol andava desaparecido, o dia está abafado.

As palavras começam a vaguear pela mente.

Sei que se escrever parte de mim, ela se misturará com a realidade.

E sei também que a minha alma jamais coexistirá com a realidade.

Portanto, escrevo.

Escrevo porque parte de mim está doente, enlouquecido.

Escrevo porque a minha outra parte luta para permanecer na lucidez.

Mas, o que será a lucidez ou a loucura?

Lucidez?

Renuncio esse cargo.

Deixo-o para vós.